Nasci e cresci nos
arredores do bairro Bom Fim, em Porto Alegre. Passeava na Redenção
aos domingos envolta a judeus barbudos, a moderninhos nativos da região e ao grande e retangular Colégio Militar de Porto Alegre, na época ainda
vermelho com detalhes em bordô.
Até meus cinco ou seis
anos, o prédio histórico nunca havia chamado a minha atenção. Vez
ou outra meu pai comentava que tinha belas referências sobre a
excelência do ensino do lugar, mas eu não queria saber, afinal do
outro lado da rua tinha grama, areia e música – o que era muito
mais interessante. Assim, desde cedo, uma curiosidade quase
inconsciente sobre o Colégio foi plantada na minha cabeça. Em 2006
ela brotou. Eu tinha 10 anos e o gás da idade foi canalizado àquela
plantinha que crescia forte, dia após dia, fertilizada pelo cursinho
preparatório. Para entrar naquele mundo eu precisava passar por uma
prova – de matemática, de português e de maturidade.
No final do mesmo ano, a
planta virou árvore quando eu passei em todas as provas, uma a uma.
As férias passaram voando, também não me lembro de nada, e em
janeiro entrei no grande retângulo vermelho com um olhar diferente.
Um misto de medo, posse e orgulho mexia comigo, me mantendo num
nervoso ímpar que durou muito tempo. Tudo era novo e desafiador.
Usar aquele uniforme quente com boina na cabeça, usar pronomes de
tratamento, não podia mais usar meus tênis, minhas pulseiras e
anéis coloridos. Era tão diferente que no início cheguei a
acreditar que não aguentaria. Um mês ou dois se passavam e, pela
frente, eu via mais sete anos.
Mas não foi assim.
Pisquei. Minha árvore já tem vários galhos. Só me restam 2
(curtos) anos. Desde que entrei, passei muitas outras provas de
matemática, português e maturidade e sei que ainda tenho várias a fazer pela frente. Breve entrarei no grande retângulo, que
hoje é amarelo, com um olhar diferente: o olhar de uma ex-aluna que dentro do Casarão muito viveu e cresceu
como planta, como cidadã e como mulher.
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