domingo, 28 de outubro de 2012

sensibiliza

cabelo desarrumado, sapato que não combina, etiqueta aparecendo. presente com preço, comida em boca aberta, calcinha em perna aberta. gordura de gordinha, pêlo em canela, espinha numa testa. unha descascada, anel virado, sapato desamarrado. não?
e crianças mal-educadas, famílias mudas, viúvas negras? o desvio dos olhos, a vergonha alheia, as caras-de-pau? hipócritas esclarecidos, imunes vitalícios, mimados protegidos? transportadores de boatos, inventores de histórias, mentirosos com talento. nada?
crianças com fome. adultos com fome. a fome. crianças doentes. velhos doentes. a doença. a solidariedade falha, o não ligo, a cegueira programada. os preconceitos herdados, as ofensas gratuitas, os enganos combinados. nada ainda?
cachorros atropelados, gatos abandonados, ratos foragidos. peixes com frio, macacos aprisionados, elefantes entediados. porcos ensanguentados? galinhas estupradas? patos mal-alimentados? agora sim.
priorize. o que te sensibiliza?

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

de verdade

gosto de gente de verdade.
feita de carne e sangue vermelho, claro ou escuro. que erra e pede desculpa, que faz e se arrepende, que abraça e beija e amassa, de verdade. saudável falta de prudência que faz a gente viver forte, que afasta a razão e libera o instinto do corpo, da dança, do grito, sem dó. julgando o julgamento como pouco importante, se esquecendo de que as pessoas lembram, ignorando que amanhã é um novo dia.
existem aos montes. tolidos, comportados, prudentes, felizes - se dizem. não sei. nasci sabendo que ser educada é um saco. segurar os talheres, alterar os pronomes, cruzar as pernas, sorrir. como quem se importa. com t o d a s essas coisas frias.
minha infanto-juvenil licença poética já pouco aceita entre a maioria acaba em pouco tempo. até uns anos atrás sempre tinha alguém a minha volta pra concertar qualquer observação sem-vergonha, über sincera, de verdade.
uma pena. vai expirar e só lamento. no mundo, de verdade, sou menos uma.