quinta-feira, 21 de julho de 2011

365 dias

subs m.: 1. astronomia: tempo que a Terra gasta para dar uma volta em torno do Sol; 2. período de cerca de 365 dias ou doze meses.


Há exatamente um ano atrás eu estava respirando como uma fumante ativíssima, deitada numa cama de hospital. Sem poder levantar, vestia o meu pijama listrado e uma agulha colocava pra dentro de mim a tal da dipirona. A cada meia-hora aparecia uma moça cansada, com os olhos baixos, para apagar  o apitinho do meu remédio e encher aquele o saquinho da minha droga.


Se hoje fosse o dia de hoje há um ano atrás, eu estaria do lado de uma guriasinha loira, bem gringa, cujos fios do marcapasso foram arrrancados com um ou dois ais ou uis dela, milhões de berros internos meus. Eu saberia que estaria indo embora pra casa no dia seguinte, com novas mãos pra criar e novos jeitos de escrever, novos modelos de abraços, apertos de mão, brincadeiras de roda. 


De lá pra cá não perdi meus tiques. Assisto aula secando meu suor imaginário nas calças, subo minhas mangas pra escrever, minhas mãos não encostam em quem eu abraço. Mas muitas mãos novas eu conheci. Descobri que de todas a minha é a mais hidratada e fofinha. De todas a minha é a mais amiga e querida.


Comemorei indo no laboratório, tirar sangue. Guardar a lembrança de mais um desmaio.. 

quarta-feira, 20 de julho de 2011

teste1, teste2

dia 23 de abril de 2011 escrevi sobre o teste1 e não,
não me esqueci dele.
acordei e dormi pensando no que fazer, no que mudar, para que a turbulência acabasse antes do avião cair, antes da gasolina acabar. procurei pista, cogitei pousar no mar de bóia mesmo. pensei melhor.
o teste1 foi um período de testes.
testei técnicas que variaram da medicina, a insistência, a bebida, a psicologia. a maternidade, ao choro, até ao meu gato - coitado. no dia em que eu quase desidratei resolvi parar com essa besteira e comecei a ler.
retomei àquele passeio que eu contei no post teste1 e comecei a pesquisar, a ler, a me informar e antes de ontem decidi.
inicia aqui o teste2

segunda-feira, 11 de julho de 2011

fico triste

nasci nos anos noventa, cheio de novidades, cores e robôs. junto comigo cresceram meus colegas, a maioria dos meus amigos. todos os que eu trato de igual pra igual, todos os que eu critico como critico a mim mesma.
cresci sempre achando estar ligada no mundo. na rua na fora, no jornal nacional, na zero hora ou no diário gaúcho. cresci mais e mudei de realidade, de um ambiente confortável e branco luxo para um centenário do governo amarelo cheddar. gostei.

gostei tanto que lá estou eu, até hoje. só saio de lá quando realmente for preciso. vai demorar. mas às vezes retorno àquela realidade antiga, de beleza e calmaria, que um dia me vi imersa.

fico triste.
fico triste em ver que meus semelhantes, aqueles que tiveram tantas ou mais oportunidades do que eu, aqueles que viveram na bolha de quem vive em cima, cometem erros tamanhos. erros egoístas e ridículos, que envolvem desde um tsunami d'água até um carimbo eterno no ombro esquerdo.

em prol daqueles que, felizmente não tem tanto contato com esse lado da moeda, fico triste depois de ficar revoltada. revoltada com quem não tem a capacidade de abrir a janela do carro pra ver a rua de quem anda a pé.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

my generation


My Generation, by the Who
É a prova imortal de que falar sobre as gerações mais jovens, as gerações que movem o mundo, não é novidade. Felizmente, tudo o que a nova geração faz é tido como coisa da nova geração. The Who, uma banda lenda que se formou em 1964 relatava que "People try to put us down just because we get around, talk about my generation". Primaveras vão e vem e a gurizada da nova geração acorda pra vida.


Eu não nasci nos anos 60. Nem nos anos 50, nem 80, nasci nos anos 90. Nasci no Brasil, em 1995. Faço parte da nova geração. People still talk about my generation mas de um jeito diferente. Nossa música não quebra guitarras e nossas roupas mostram.. corpo nu. Cabeça limpa. Pura?

Sobre a minha geração se fala de doença. De ansiedade crônica, de hiperativismo, de tudo agora, de imediatismo. De crianças mimadas, mal educadas, sem criatividade, agressivas. De alienação, de internet, de bullying, de superexposição.

Esse clipe do Daft Punk me fez pensar coisas tipo "putz, que merda". A música é meio irritante, mas vale a pena insistir um pouco. Foi feito a um tempo, mas faz bastante sentido. Ou nenhum sentido.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Uma Vida Sobre Rodas

Quando Volantino Aguiar era pequeno, seu sonho era ter um lindo carrinho de bebê cheio de acessórios: porta-fraldas, aquecedor de mamadeira, penico embutido e até um guarda-sol ajustável. Nesse sonho, ele imaginava que sua mãe pilotava aquela maravilha de veículo e levava-o, orgulhosamente, para dar umas voltinhas pela cidade.
Anos depois, Volantino cresceu, virou uma criança. Seu sonho de consumo era uma grande e bonita bicicleta. Aquelas supercaras que só adulto rico tem. O pequeno menino pensara, que, se ele tivesse uma bike daquelas, ele seria o máximo com seus amigos e até com as meninas.
Volantino ficou jovem. Mais ou menos vinte a vinte e cinco anos. O que ele queria mesmo era uma moto. Ele não gostava mais de bikes, mas adorava motos. Sua moto dos sonhos tinha que ter tudo: estofamento de couro, som de alta qualidade, detalhes em diamante e outras coisas mais.
O homem envelheceu. Odiava motos, bikes e carrinhos de bebê. Achava tudo aquilo uma besteira. Ele queria um carro muito mais prático e dava até para viajar com a família.
Volantino ficou idoso. Mal conseguia caminhas. Por isso queria uma cadeira de rodas motorizada. Mas era muito caro.
O velho faleceu. Foi levado no caixão até o cemitério, claro - a pé. Mesmo morto, pensava:
- Eu queria uma linda carruagem.
escrita por Júlia Ávila,
que pra quem não sabe,
 é a minha irmã 
de dez anos completíssimos.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

sobrecasar

quero um carinhoso
um querido, amado
dengoso
meu travesseiro.

quero um educado,
um posturado, bem-criado
loiro
meu gato.

quero um músico,
afinado, de bom gosto,
artista
meu ipod.

quero meu travesseiro,
meu gato,
meu ipod,
morrer solteira.