domingo, 27 de fevereiro de 2011

Parvo ao Diabo

Ao Inferno?! Ieramá!
Hiu! Hiu! Barca do cornudo.
Pero Vinagre, beiçudo,
rachador d'Alverca, huhá!
Sapateiro da Candosa!
Entrecosto de carrapato!
Hiu! Hiu! Caga no sapato,
filho da grande aleivosa!
Tua mulher é tinhosa
e há de parir um sapo
chantado no guardanapo!
Neto de vcagarrinhosa!
furta-cebolas! Hiu! Hiu!
Excomungado nas igrejas!
Burrela, cornudo sejas!
Toma o pão que te caiu!
A mulher que te fugiu
para a ilha da Madeira!
Ratinho da Giesteira!
O Demo que te pariu!
Hiu! Hiu! Lanço-te uma pulha!
Dê-dê! Pica naquela!
Hiu! Hiu! Caga na vela!
Hiu, cabeça de grulha!
Perna de cigarra velha,
caganita de coelha,
pelourinho de Pampulha!
Mija na agulha, mija na agulha!

"O Auto da Barca do Inferno",
uma obra absurda de Gil Vicente

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

queda de mercado

gosto muito de muitas pessoas. mais de umas do que de muitas, menos de umas do que de outras. considero de verdade pouquíssima gente. valorizo o monopólio que algumas pessoas têm sobre mim, quando se tratam de alguns assuntos específicos.
ano passado me decepcionei de verdade com uma das potências do meu mundo, que vivia num clima bem unificado. sem aquele esquema clichê de bipolaridade no poder, guerra fria, guerra quente, guerra picante, que essa gurizada medonha que eu vejo todos os dias no colégio vive.
a mais ou menos duas horas atrás, a mais forte de todas as economias de mercado acabou de sofrer uma forte queda, o que colabora para as expectativas e esperanças que se guardavam para um futuro próximo.

sempre ouvi que tratamento nem sempre era coisa para doente.
esse foi um caso em que fui diagnosticada sã.
mesmo sem problemas, sem carências, sem nada pra contar, sim - deveria me tratar.
quero. posso?

domingo, 20 de fevereiro de 2011

os figurantes do ano passado

Em um ano muita coisa acontece. Muita coisa a gente lê, ouve, vê e sente. Pena que a maioria a gente esquece. É costume, em uma retrospectiva, só nos lembrarmos do que foi grandioso e extraordinário, enquanto os responsáveis pelo sucesso ou fracasso do filme gravado nos últimos 365 dias tenham sido os figurantes: um bom banho, uma caminhada no parque, uma risada de criança, um almoço de domingo.
Normalmente, todas as coisas as quais eu lembro em detalhes são completamente mínimas e diárias. Recordo o número do último vôo que procurei em uma das telas do aeroporto e não sei quem ou quantas pessoas foram na minha festa de aniversário do ano passado.
Mesmo com esta dificuldade em lembrar do que eu deveria, o dia 21 de Julho de 2010 não pretende seguir a regra. Foi esse o dia em que eu cheguei pálida e trêmula no Hospital Santo Antônio, em Porto Alegre, e só saí de lá no dia seguinte - já me sentindo diferente. Lembro dos detalhes mais desinteressantes incluindo o gosto do remédio calmante, e agradeço sinceramente por não me lembrar de nada desde a anestesia geral até a hora em que eu abri os olhos.
O ano acabou e só parei para pensar nele agora. Esse também é meu plano para 2011: deixar que meu cérebro selecione por si só do que eu devo lembrar e esquecer, para que eu volte a rir ou a chorar do que pá passou quando esse ano também acabar. Até lá, minha agenda será a única responsável pelos meus planos para o dia seguinte.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

sonho2

estava eu, acompanhada pelos meus pais, numa loja totalmente branca e clara, com alguns tons nude - coisa chique - vendo umas roupas. de repente apareceu uma mulher, alta e agitada, dizendo que eu tinha sido selecionada e que eu tinha que vestir aquilo, agora. aquilo era uma blusa preta com listras coloridas (cuja figura eu não encontrei na internet e por isso brevemente lançarei na minha grife) e uma calça, no mesmo preto, combinando. saí correndo e me vesti. ao sair do vestiário, a mesma mulher e um fotógrafo tiraram fotos bizarras de mim - ainda na porta - e me mandaram sentar, num sofá, sozinha.
menos de cinco minutos depois apareceu a alta denovo, dizendo que eu tinha sido a selecionada entre as selecionadas (as quais eu não vi nenhuma, mas enfim) e que eu tinha que ir, agora, rápido, pra lá.
pra lá era tão longe que eu tinha que ir de avião. meu pai estava muito empolgado, eu não entendia nada e minha mãe preocupadíssima corria atrás de nós rumo a loja de malas, onde eu comprei uma gigante para guardar a roupa do corpo que eu vestia antes daquele uniforme preto com listras.
entramos no carro e a mãe dirigia rápido, correndo, enquanto o pai comprava a minha passagem pelo site da GOL, graças ao notebook que ele tinha no colo.
chegamos no salgado filho, meu pai me empurrou para o embarque e, abraçado na minha mãe que chorava, me abanaram emocionados. eu não entendi nada.
acordei