domingo, 5 de fevereiro de 2012

Olhuda

Nasci com olhos grandes, escuros, iguais aos da minha mãe. Sempre ouvi isso de estranhos. Que lindos esses teus olhos de bolita. Que belo par de espelhos. Ó filha, teus olhos são muito grandes. Cresci e descobri que, se eu arregalasse, eles quase saiam para fora e, se eu os fechasse, poderia enxergar minhas pupilas através da brancura das minhas pálpebras. Cresci um pouco mais e descobri que eles podiam me fazer simpática. Cresci um pouco mais e descobri me fazia conhecer gente. Conversei com muitos estranhos até entrar no teatro, onde atuei para estranhos, com estranhos, sem estranhos, para mim. Cresci um pouco mais. Meus olhos mudaram. Depois de adicionada, camada por camada acima da minha retina, me fiz seletiva.
Cumprimentando muitos e confiando em poucos, saí do teatro e cresci mais um pouco. Ainda cresço pouco. Continuo olhuda.

4 comentários:

  1. só uma palavra: genial.

    ResponderExcluir
  2. ademais, adoro teu jeito de escrever. mesmo debaixo de tuas palavras nuas, transparece algo. bonito.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. e mais de um ano depois, te reli diferente. entendi. acho que eu me dobro mesmo pra achar palavras nuas e cruas. obrigada de novo!

      Excluir